Soberania Digital brasileira: construção e desafios.
- Rogerio Meceni
- 5 de set.
- 3 min de leitura
Introdução
Recentemente escrevi aqui no MetaJus um artigo sobre os investimentos que o Governo Federal pretende fazer através do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) e do programa Redata, previsto para ser lançado em Setembro/2025. Somente no PBIA, serão investidos 23 bilhões de reais nos próximos quatro anos, enquanto no Redata o governo pretende atrair empresas e fornecedores internacionais para instalarem data centers no Brasil, concedendo incentivos fiscais como isenção de tributos federais (PIS, Cofins, IPI e Imposto de Importação).
Além dessas iniciativas, o Brasil criou duas leis que estabelecem princípios fundamentais para o uso da internet e visam garantir a privacidade , a segurança e a proteção dos dados pessoais dos brasileiros. Esses dois importantes diplomas são a Lei do Marco Civil (Lei nº 12.965/2014) e a Lei Geral de Proteção de Dados - LGDP (Lei nº 13.709/2018).
Soberania digital
A soberania digital pode ser entendida como a autonomia de um Estado para gerir seus recursos digitais, garantindo que decisões sobre dados, tecnologias e comunicações estejam alinhadas ao interesse nacional. Isso abrange:
Infraestrutura: quem controla os servidores, cabos, data centers e nuvens que processam nossos dados?
Regulação: quais leis regem o uso de dados e plataformas digitais no Brasil?
Segurança: como proteger dados de cidadãos e do governo contra espionagem ou vazamentos?
Inovação e independência: até que ponto o país depende de tecnologias estrangeiras?
O conceito de soberania digital ganha cada vez mais relevância, pois envolve a capacidade do país de controlar, proteger e regular suas próprias infraestruturas tecnológicas, dados e informações estratégicas.
Nesse contexto, o Brasil tem adotados diversas medidas estratégicas. A instituição do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), os investimentos em transformação digital e o programa Redata são exemplos claros de ações públicas voltadas para a garantia da soberania digital.
Desafios atuais da soberania digital no Brasil
Apesar dos avanços alcançados, o Brasil ainda enfrenta importantes desafios:
Dependência tecnológica: grande parte das plataformas digitais e serviços de nuvem utilizados no país pertencem a empresas estrangeiras;
Cibersegurança: o Brasil é um dos países mais atingidos por ciberataques no mundo, expondo fragilidades em infraestrutura crítica. Até agosto de 2025 foram 315 bilhões de tentativas de ataques virtuais.
Equilíbrio entre inovação e regulação: é necessário criar políticas que estimulem startups e empresas nacionais.
Governança internacional: como o Brasil deve se posicionar em fóruns globais que discutem regulação da internet e inteligência artificial?
Profissionais qualificados em tecnologia: Déficit de profissionais capacitados para lidar com tecnologias como Inteligência Artificial. O governo deve criar mecanismos e politicas que visem incentivar a capacitação desses profissionais de TI e ampliar a oferta de mão de obra especializada.
O fortalecimento da soberania digital brasileira passa necessariamente por algumas questões. A saber:
Incentivo à tecnologia nacional: investir em pesquisa, semicondutores, computação em nuvem e IA próprias;
Educação digital: formar cidadãos e profissionais conscientes sobre direitos e responsabilidades na rede;
Política de dados estratégicos: garantir que informações críticas fiquem sob controle nacional;
Integração entre leis: LGPD e Marco Civil são marcos fundacionais, mas precisam dialogar com novas legislações, como a futura regulação da inteligência artificial.
Conclusão
A soberania digital no Brasil é um desafio de Estado, não apenas de governo. O Marco Civil da Internet forneceu os princípios, a LGPD trouxe a estrutura de proteção e fiscalização, e agora o país precisa avançar em políticas que garantam independência tecnológica, segurança cibernética e respeito aos direitos fundamentais.
Mais do que uma questão jurídica ou técnica, trata-se de assegurar que o Brasil tenha voz ativa no futuro digital global, sem abrir mão de seus valores democráticos e das ações públicas de Estado voltadas para o bem-estar da sociedade e igualdade de acesso ao serviços públicos digitais.

Rogério Meceni
Especialista em Tecnologia
Editor técnico do MetaJus






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